O papel das crianças na disseminação do novo coronavírus é um tema central – e polêmico – no debate sobre a volta às aulas presenciais. Em busca de respostas para essa questão, um estudo realizado na Coreia do Sul, divulgado pelo jornal The New York Times, constatou que crianças menores de 10 anos transmitem o coronavírus com menor frequência do que os adultos, ainda que o risco não seja zero. No entanto, a pesquisa também apontou que crianças mais velhas e adolescentes – entre 10 e 19 anos – transmitem a covid-19 tanto quanto os adultos.
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Os pesquisadores sul-coreanos identificaram 5.706 pessoas que foram as primeiras a reportar sintomas da covid-19 em seus domicílios entre 20 de janeiro e 27 de março, quando as escolas foram fechadas. Em seguida, monitoraram 59.073 contatos dos primeiros casos documentados. Foram testados todos os contatos de cada paciente, independentemente dos sintomas, mas somente os sintomáticos fora das residências.
O estudo mostra maior preocupação com crianças da escola secundária e adolescentes do ensino médio e sugere que este grupo tem ainda mais probabilidade de infectar adultos com a covid-19. Para alguns especialistas, entretanto, as infecções podem resultar de uma casualidade ou do comportamento dos jovens.
Crianças menores de 10 anos de idade têm metade das chances em relação aos adultos de propagar o coronavírus para outras pessoas, seguindo a linha de outros estudos. Isso pode acontecer ou porque as crianças exalam menos ar, ou porque o fazem mais próximo do chão, diminuindo as chances que os adultos respirem esse mesmo ar.
Já as crianças mais velhas são, no geral, tão ou quase tão altas como adultos, ou seja, exalam uma quantidade maior de ar, e costumam ter os mesmos hábitos anti-higiênicos que as crianças mais novas, sem falar na questão da socialização. Com a reabertura das escolas, apareceriam “aglomerados” de infecção, incluindo crianças de todas as idades.
Mesmo entre as crianças pequenas, o número de novas infecções transmitidas por elas pode aumentar quando as escolas reabrirem, advertem os pesquisadores.
“Receio que exista a sensação de que as crianças simplesmente não serão infectadas ou não da mesma maneira que os adultos e que, portanto, são quase uma bolha populacional”, disse Michael Osterholm, infectologista especialista em doenças infecciosas da Universidade de Minnesota, ao The New York Times. “Haverá transmissão. O que precisamos é reconhecer isto agora e incluir essa conclusão nos nossos planos”, continuou.
Ashish Jha, diretor do Harvard Global Health Institute, aponta que muitos dos estudos feitos na Europa e na Ásia que sugerem que crianças mais novas têm menos probabilidade de ser infectadas e propagar o vírus são pequenos e falhos. O estudo sul-coreano “foi feito com bastante cuidado. É sistemático e cobriu uma população bem grande. É um dos melhores estudos até agora neste assunto”, disse. O rigor e a escala da análise também foram elogiados por outros especialistas.